quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Clima de Guerra Fria

Para a nossa geração, a primeira geração do pós-Guerra Fria, entender o que foi este conflito é, as vezes, muito complicado. A percepção de que o mundo estava às portas da aniquilação total é muito vazia nas páginas dos livros de história.

Para entender a racionalidade por trás dos gigantescos esforços para manter as relações diplomáticas entre Moscou e Washington a um nível aceitável é preciso entender como eram estas relações durante a Guerra Fria. Para tentar transportar vocês para o clima da Guerra Fria lhes apresento a primeira parte de um documentário americano. O documentário (em inglês) se chama First Strike e foi feito por volta do fim da década de 70, começo da de 80, e mostra a preocupação dos EUA com a relativa obsolescência dos seus sistemas de armamentos nucleares estratégicos em face de um ataque maciço soviético. Mostrando que, no ponto em que se encontrava a paridade de forças nucleares entre as duas superpotências, os EUA estariam vulneráveis a um ataque surpresa soviético.

A primeira parte do documentário é uma simulação do que aconteceria no sistema de defesa dos EUA caso eles fossem atacados.



O resto é um grande debate entre especialistas que apontam as falhas e propõem soluções para a tal “vulnerabilidade” dos EUA.





Mas o mais importante ao assistir estes documentários é perceber que o período da Guerra Fria foi um período de extrema paranóia e medo constante. Os debates falam principalmente em sobrevivência, explicitamente dos EUA, mas na prática da humanidade. A nós só cabe imaginar como era viver sob a sombra de uma guerra nuclear. Mas é preciso lembrar que, os diplomatas de hoje, os decisiomakers de hoje, se lembram muito bem de como era a Guerra Fria e, portanto, suas decisões e ações estão fortemente apoiadas em evitar que este clima volte a reinar no mundo.

É claro que precisamos fazer algumas ressalvas, a Guerra Fria em si não retornará. O comunismo ruiu, a Rússia é hoje, na medida do possível, uma democracia e não existe um motivo ideológico que coloquem Rússia e EUA em posição de inimigos naturais. A Rússia não é mais uma superpotência e não persegue ativamente em sua agenda minar a influência americana no mundo (com exceção óbvia das suas próprias áreas de influência). Os esforços para erradicar a sombra da Guerra Fria são notáveis e justificados. Mas ao mesmo tempo as armas nucleares não sumiram. Elas não foram enviadas para o limbo da historia assim como a URSS. Os mísseis Minuteman III na base aérea de Vanderberg, Califórnia estão tão ativos hoje quanto há 20 anos atrás. Os Topol-M russos também. O fim da Guerra Fria foi RUIM para o regime de controle de armamentos nucleares. A falta de uma guerra à vista tornou o controle destes armamentos pouco importante aos olhos dos decisionmakers e da opinião pública em geral.

Neste sentido, caso o antagonismo entre Washington e Moscou chegue aos níveis presentes durante a Guerra Fria é racional afirmar que a aura de medo e paranóia pode voltar a reinar. É claro que ambos devem buscar sempre cumprir e satisfazer seus interesses nacionais. Essa é a natureza do Estado. No entanto aos delegados é preciso ter em mente que paralelamente á perseguição dos objetivos nacionais é preciso ter a percepção de que este filme, antagonismo entre Moscou e Washington, o mundo já assistiu e não gostou do que viu.

Espero que este pequeno filme tenha passado aos senhores uma pequena noção do que foi a Guerra Fria e que os seus ecos ainda deixam marcas profundas na relação entre EUA e Rússia e, por conseguinte, OTAN e Rússia.

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